sábado, 3 de outubro de 2009

Era uma vez um bairro... e um cinema!

Por Ciranda Campos e Laís Santos




A partir do século XIX, a região da Baixa de Sapateiros ficou marcada pelo seu comércio, principalmente o da venda de couro, atraindo assim muitos sapateiros de outras regiões para o local. Daí a origem do nome do bairro.

Nas primeiras décadas do século XIX, além do comércio, a Baixa dos Sapateiros ganha visibilidade pela inauguração do primeiro cinema da cidade, o Cine-teatro Jandaia. Cinco anos depois, em 1915, é construído na mesma região outro cinema, o Olympia, marcado pela suas matinês que seduziam, assim como no Jandaia, a elite das classes média e alta da cidade de Salvador.

Castelo de Maravilhas

Em 1950, o cinema torna-se a principal opção de lazer na capital, para não dizer, uma das únicas que atraía todas as classes e faixas etárias. Como aponta a professora Maria do Socorro Carvalho, na obra Imagens de um tempo em movimento: cinema e cultura na Bahia nos anos JK (1956-1961), “Era o único divertimento realmente popular naquela cidade onde pouco ou quase nada se tinha para fazer”.

Para o escritor Geraldo Costa Leal, autor do livro Pergunte ao seu avô, obra que resgata a história dos principais cinemas de Salvador, o Cine-teatro Jandaia foi o cinema mais completo existente na capital. Localizado na Rua do Alvo, na Baixa dos Sapateiros, região antes badalada pela elite soteropolitana, o empreendimento foi inaugurado em 9 de março de 1911, pelo comerciante sergipano João Oliveira.

No início, o Cinema Jandaia não passava de um simples galpão no qual eram projetadas imagens de pouca qualidade para um público mais humilde. Esta realidade permaneceu até o fim da década de 20, quando Seu João, após uma longa viagem para a Europa, decide reformar o cinema, deixando-o mais amplo e mais bonito. O antigo Cinema Jandaia passa a então ser chamado de Cine-teatro Jandaia, considerado a partir da década de 30, o espaço de lazer mais moderno e sofisticado da América do Sul.

Apelidado de “Castelo de Maravilhas” em virtude da sua magnitude, o Cine-teatro Jandaia, um dos primeiros arranha-céus de Salvador, comportava de uma só vez, 2.200 espectadores em uma área de 1.200 metros quadrados, oito vezes maior que as salas de exibição dos cinemas atuais . Artistas de prestígio internacional, como Carmem Miranda e Procópio Ferreira, se apresentaram no local em seus tempos de glória.


Palácio em ruínas

A partir da década de 60, com a expansão dos empreendimentos multinacionais de cinema na capital, aliada à falta de manutenção e ao aumento da marginalidade na Baixa dos Sapateiros, o “Castelo de Maravilhas” começa a decair. O cinema tenta sobreviver, sem êxito, com a exibição de filmes populares.

Em 1975, é construído o primeiro shopping de Salvador, o Iguatemi. Nesse mesmo período a cidade passava por transformações socioculturais, entre elas a migração do comércio de bairro para os grandes centros comerciais.

Ainda nos anos 70, Ivone Oliveira, filha de Seu João e herdeira do espaço, resolve pôr o Jandaia à venda. Fechado há mais de 15 anos, sua recuperação é parte do projeto de revitalização da Baixa dos Sapateiros, traçado em 1994.

Há três anos, a Associação Cultural Viva Salvador, fundada e presidida pelo marchand francês, Dimitri Ganzelevitch, entrou com um pedido de tombamento do espaço no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), mas ainda não obtiveram resposta.

Um comentário:

  1. O texto ficou ótimo!
    Sugestões para a edição final:
    - colocar intertítulos
    - fazer hiperlinks (com blank) para páginas que falem dos livros citados, da Baixa dos Sapateiros e da associação.
    - fazer um "Leia mais" no rodapé da matéria, com links para outros textos sobre o cine Jandaia.
    Parabéns!!!

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